quinta-feira, 8 de maio de 2008

A mão que segura a arma (e come o cu de todo mundo)


Vão se foder, eu tenho tanto para falar sobre 007 Goldeneye, o jogo de Nintendo 64, que não é nem engraçado. Era tão viciante que a minha mãe zerou o jogo antes de mim e eu não gostava de jogar com ela no multiplayer porque ela sempre me matava. De verdade. Pra ser sincero, eu nem sei como eu nunca pensei nisso antes, mas comecemos pelo começo.

Quem não adora a segunda fase desse jogo, a Facility? Logo de cara você tá num tubo de ventilação que sai num banheiro e a primeira coisa que você vê é um cara cagando. Quem nunca tentou tirar o chapéu do cara com um tiro sem matá-lo e depois não se arrepender de ter errado? Ainda na Facility, um pouco mais pra frente, você tem a chance de conversar com cientistas que logo que percebem que você está armado, levantam as mãos em sinal de rendição. A pessoa que nunca matou um cientista ou pelo menos não deu um tiro na mão do calhorda, só pra ele ficar se debatendo de dor, também nunca deu um nome no estilo "Cu" ou "Imbecil" ao seu rival em Pokémon. Como assim você nunca teve um Gameboy?

Continuando com 007. Como simplesmente não amar o fato de poder explodir, literalmente, qualquer coisa que esteja no cenário. Você entra na sala de controle de uma base criminosa do mal, mata uns soldados ruins de mira, pega um tal disquete salvador do mundo, atira no pé de um cientista e aí você fica entediado. Então você vira pro computador, carrega a sua PP7 e dá um tiro no teclado. Ele vai pelos ares. Atira no mouse, ele explode como um Pikachu sobrecarregado. Ainda não satisfeito, atira na cadeira. Ela arde em chamas depois de explodir. Aí você atira na mesa, ela explode, as coisas que estavam em cima dela caem no chão e explodem também e se você já as tinha explodido, foda-se, elas explodem de novo. Só não dá pra explodir a água.

Depois de mais ou menos umas 10 fases, eu acho, uma tal de Natália começa a ajudar você nas missões, aliás, ajudar o caralho. Ela é mestre em se meter no meio do fogo cruzado e levar tiro do James Bond na cara, e ela tem uma porra de uma Magnum, aquela inútil. Pergunte a qualquer pessoa que já jogou Goldeneye qual o personagem que eles mais odeiam no jogo e resposta nunca vai ser o traidor agente 006 e sim Natália. Sempre Natália.

Legal mesmo era conseguir a famigerada Golden Gun, a pistola de ouro que matava com um só tiro. Era tão divertido quanto luta de anões no catupiry. Você saia por aí dando tiro no saco do pessoal e eles morriam, quem nunca sonhou com isso não merece nem acordar de manhã. Foda mesmo era resistir atirar nos cientistas, mas eles nem explodiam, então eu poderia sempre atirar nos computadores e não falhar na minha missão.

Metade dos brasileiros que jogaram Goldeneye na mesma época que eu, provavelmente jogaram sem ter assistido o filme antes. Isso dava uma perspectiva completamente diferente ao jogo. Completamente! Ninguém sabia ao certo o que tava acontecendo. Uma hora você tava num navio, depois você tava preso e depois já tava numa floresta com uma russa cega como um morcego. Você atirando pra tudo quanto é lado e as coisas explodindo. Se isso não é entretenimento, eu não sei o que é. Quem precisa de um enredo, afinal?

Reunir quatro amigos pra jogar o multiplayer de Goldeneye quebrou mais amizades do que roubar estrelas no Mario Party. Eu vi casamentos se destruírem em frente aos meus olhos quando alguém acertava o cônjuge amado pelas costas com uma granada e coisas do tipo. Sem mencionar as incríveis passagens secretas que só os mais experientes jogadores tinham acesso. Sair da parede e acertar uma facada na cara de um Boris ou da Natália, o que era ainda mais prazeroso, é algo cujo o sentimento que causa continua sem nome até os dias de hoje. Ou escolher o modo de jogar apenas com minas e sair por aí plantando elas pela fase inteira. Você morria, aparecia e morria de novo. Não dava nem tempo de dizer "Chantilly".

Quase ia me esquecendo da fase em St Petersburg. Uma das favoritas de todos. Ok, é a fase que você sai de tanque pela rua e esmaga qualquer tipo de ser vivo que apareça na sua frente, lembrou? Mais uma vez não era permitido matar civis, que dessa vez não eram cientistas, mas simplesmente pedestres com pouca sorte que decidiram sair na rua na mesma hora que Bond e seu tanque. Ainda consigo ouvir os ossos se quebrando em meio aos gritos de agonia até hoje nos meus sonhos mais profundos.

Provavelmente ainda não consegui dizer tudo que tinha para dizer sobre esse jogo que marcou demais a minha infância. Muito mesmo. Até demais, eu acho. São 6 da manhã, eu tô tentando dormir desde às 4, e nesse meio tempo eu comecei a pensar no jogo. Vieram tantas lembranças que eu simplesmente não podia deixar elas irem embora, então acho que pelo menos um pouco de justiça foi feita. Esse jogo merece todo o reconhecimento do mundo. Quem concordar, que dê um tiro no seu teclado.

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